Página 71 - Cerimonial Magazine 2014

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“A
rotura
numa
europa
e
num
país
onde
não
podemos
ser todos
iguais
.”
Crónica
N
uma Europa em que não
deveria de existir nem muitos
ricos, nem muitos pobres, em que
a sociedade careceria de ser mais
igualitária e justa, enfim um discurso
poético, dito de forma simples.
Uma teoria condenada à nas-
cença, como podemos ser todos
iguais se não somos capacitados
da mesma forma, não gostamos
das mesmas coisas, nem todos
gostam de trabalhar, nem todos
trabalham, uns trabalham mais que
outros, uns rentabilizam mais o seu
trabalho que outros.
“Justiça” é uma palavra que anda
constantemente na boca do povo,
sobretudo dos mais inconformados
e dos menos trabalhadores. Os
ordenados deviam de ser iguais,
mais justos. Sim, com tarefas dife-
rentes? Com capacidades de rea-
lização mais baixas? Não se pode
tirar dos que trabalham e têm mais
para dar aos que tem menos. Se
não vejamos a real idade portu-
guesa, tira-se mais das peque-
nas empresas, para alimentar um
governo que há muito encetou uma
pol ítica de “não produtividade”,
um sistema que alimenta constan-
temente os desempregados, e na
maior parte das vezes aqueles que
nunca trabalharam. Num país em
que se pagou para abater barcos,
em que se subsidiou para não culti-
var, em que os subsídios adquiridos
à custa de quem trabalha, nunca
chegaram ao destino para os quais
foram concebidos.
Um país que alimenta um fundo
de desemprego, ao nível de quem
tem que cumprir com um mês nor-
mal de trabalho em qualquer área
comercial ou de serviços.
O país das formações, em que
há um promotor que recebe uns
bons trocos, para garantir um tra-
balhito ao amigo tal, e outro amigo
tal, que na maior parte das vezes
não estão minimamente habilita-
dos para ministrarem as formações
destinadas. Uns alunos recrutados
com mais ou menos facilidade. Se
receber uns trocos dá imenso jeito,
porque sempre sai de casa não
faz nada e até recebe. Então estás
em que formação? — Estou em
serralharia. Mas vais querer seguir
nessa área? — Não, mas era o
que havia...
Um país onde os que trabalham
muitas das vezes vão perdendo
essa vontade, porque no fundo só
vai servindo para alimentar o estado
da nação. Um sentimento de senso
de injustiça, que desmotiva e nos
faz desistir.
Quem não trabalha não pode
prosperar, através do que é retirado
daqueles que trabalham.
Provavelmente por cada um
que recebe sem trabalhar, haverá
alguém que trabalha sem receber.
As empresas com a carga fiscal,
que lhes recai sobre os ombros,
têm cada vez maior dificuldade em
honrar os seus compromissos labo-
rais. Por vezes nem tem escolha,
o cerco é demasiado penalizador
em relação ao incumprimento ao
estado ou aos sectores publ ico
privados.
O governo é o pior exemplo de
gestão, nada cria e a sua filosofia
assenta no tirar a uns para dar aos
outros, procurando inevitavelmente
sempre o caminho mais simples.
Valores repartidos geram menos
produtividade. Provavelmente as
empresas se tivessem maior liqui-
dez, seriam mais empreendedoras,
fomentariam mais investimentos e
consequentemente mais proveitos.
Uma grande parte da popula-
ção portuguesa, entende que não
precisa trabalhar, desmotivando a
outra parte trabalhadora que irá
sustenta-la, alimentando uma des-
motivação crescente de que não
vale a pena trabalhar, para susten-
tar quem não trabalha. Os sonhos
e a ambição não passam de uma
miragem.
A cada dia que passa Portu-
gal distancia-se dos mercados,
perde competitividade, a penali-
zação torna-se maior porque infe-
lizmente somos só um pedacinho
duma Europa que se abastece do
mesmo sentimento.
a
Por:
Otília Costa