Histórias com Vida…
S
imone de Oliveira nasceu em Lisboa
a 11 de Fevereiro de 1938, é uma
das personagens artísticas mais ilustres
deste País. Cantora, atriz de teatro e
televisão, conta com 75 anos de vida
e 55 de carreira. Em Outubro de 2013,
lança a sua biografia, “Força de Viver”
escrita por Patrícia Reis. Relatos de um
percurso de vida incrível, com altos e
baixos, paixões e perdas, lutas e desa-
fios. Os seus admiradores não escolhem
idades, “
e vamos lá saber porquê
”,
como ela própria exclama.
Recebeu-nos na sua casa ou no seu
pombal, como gosta de lhe chamar,
uma conversa que decorre por entre
as recordações familiares que ocupam
a pequena e simpática habitação onde
vive há 39 anos.
Estar junto de Simone é partilharmos
um misto de emoções, dos episódios
caricatos, às suas expressões hilariantes
que nos fazem soltar as mais puras das
gargalhadas, dos olhos que se enchem
de lágrimas e nos remetem para o silên-
cio, da alegria de alguém que gosta de
viver e que nos contagia.
Ler a biografia de Simone é como
ouvi-la falar, mas sabe a pouco, “
é um
quinquagésimo da minha vida,... falta
tudo! Por cada duas páginas daquilo
dava outro livro... e tenho memória
para isso,... não sei se para a semana
acontece, mas hoje acontece!
”, diz-
nos Simone.
Confessa-nos um desejo, “
sabe o
que eu gostava de fazer? Eu era capaz
de fazer um programa de conversa de
televisão... dava um ano de conver-
sas...
”, refere-se ainda aos milhares de
recortes e fotografias que guarda.
Para nós, desfrutarmos das suas his-
tórias é um privilégio, e um sentimento
delicioso, para ela, é só mais uma repeti-
ção, “
porque
eu só tenho esta vida
para contar, não tenho outra!
”.
Em miúda, com 10 anos queria ser
patinadora artística, estar no circo e fazer
poses nos trapézios, “
nunca quis foi
cantar e representar, nunca me pas-
sou pela cabeça. Até porque não pas-
sava pela cabeça de nenhuma miúda
há 65 anos atrás...não passava pela
cabeça de ninguém...só se pensava
em namorar, casar e ter filhos e estar
em casa, tirar talvez um curso de pro-
fessora ou enfermeira, ainda não havia
muitas médicas. Eram os homens que
trabalhavam e as mulheres ficavam
em casa. Embora a minha mãe fosse
funcionária dos correios, ela odiava
trabalhar... quando se reformou foi
com certeza o dia mais feliz da vida
dela, gostava era de estar em casa.
”
Desabafa, e continua a contemplar-nos
com mais alguns registos, “
eu tive uma
adolescência muito feliz e mante-
nho uma família notável
”. Refere-se
ainda ao seu “
casamento patético
”,
que aconteceu quando era ainda muito
nova, “
namorei e casei!
”. Poderia ter
sido professora na área de línguas, já
que a Matemática e a Física, considera
mais para os seus filhos, “
que são todos
muito inteligentes, eu não
”.
“
As coisas aconteceram porque
tiveram que acontecer! Não que eu
me tivesse proposto a fazer isto ou
aquilo”...
“Eu acho que queria era ser feliz,
realmente era aqui lo que queria
naquela altura
,” reflete Simone em rela-
ção à sua vida antes do casamento,
“
casei porque toda a gente casava,
eu não falo nisso, era um ritual.
” E
desse ritual desembaraçou-se rápido,
dois meses foi quanto durou, “
acordei
a tempo e vim-me embora.
” Depois
dessa decisão, Simone deixou de ser
a menina sonhadora de outrora, que
achava que a vida era um mar de rosas.
“
E tive a fase da raiva e o desrespeito
pelas pessoas, eu só voltei a respei-
tar as pessoas anos mais tarde, e
tenho uma grande dificuldade em as
respeitar quando elas não se dão ao
respeito
”, desabafa em tom revoltoso.
Os tempos seguintes não foram
fáceis, “
eu estive psicologicamente
muito doente e a minha irmã achava
que eu cantava bem. Cantava bem
para a minha mãe que me pedia para
cantar,… ou na escola, se estava a
chover e nós não podiamos vir para o
pátio, e as minhas colegas diziam à D.
Albertina para me deixar cantar uma
cantiguinha, “Ah canta tão bem! ...
isso passava-me ao lado. Como ainda
hoje em muitas ocasiões me passa.
”
Texto:
Otília Costa
Fotos:
Adelaide Queirós
Simone
de
Oliveira,
“é isto que eu sou...”