Histórias com Vida…
Texto:
Otília Costa
Fotos:
Adelaide Queirós
Sónia
M
atias
“…a
paixão
pela
profissão
à
frente
de
tudo
”
S
ónia Matias nasceu em Lisboa a
26 de Dezembro de 1978, e foi a
primeira mulher portuguesa a tornar-
se cavaleira tauromáquica profissio-
nal. Quebrou a tradição, num mundo
aparentemente destinado a homens.
Fomos ao seu encontro em Samora
Correia, o local onde trabalha diaria-
mente os seus cavalos. A paixão com
que despertou para a tauromaquia é
a mesma com que vive e fala da sua
profissão. A sua determinação, garra,
e teimosia, fê-la ultrapassar as barrei-
ras sociais, e conquistar um lugar de
destaque no panorama tauromáquico
nacional. O seu nome ocupa os princi-
pais cartéis por entre o universo ainda
maioritariamente masculino. A menina
de cabelos loiros e rabo-de-cavalo,
enche as praças de alegria com garra
e simpatia.
Decidiu ser tourei ra prof issional
quando tinha apenas 13 anos, os pais
na altura pensaram que era um capri-
cho de menina…
podia ter dito que queria ser can-
tora, ou bailarina...
”.
Quisemos saber como é que uma
menina, que nasceu e vivia em Lisboa
decide que quer ser toureira? “
Eu acho
que é como aqueles amores à pri-
meira vista que temos quando nos
apaixonamos incondicionalmente.
Tinha alguns membros da família
que gostavam de touros incluindo os
meus pais que eram aficionados, não
aqueles fanáticos, mas sim aqueles
aficionados que iam regularmente às
quintas-feiras ao Campo Pequeno.
Um dia estava sentada na bancada
e fez-se um
flash,
do “estilo”, é isto
que eu quero para a minha vida.
Gosto de tudo o que envolve a festa:
o cavalo, o touro, os trajes, o paso-
doble e o público.
”
Sem existirem cavaleiras femininas
profissionais em Portugal, e sem tra-
dição familiar, Sónia tinha lançado um
grande desafio, tanto a nível familiar
como a nível social. “
Eu sou uma pes-
soa muito positiva, e que acredita
que tudo é possível na vida. Pelo fato
de ser mulher não achei que ia ser
impossível, porque se eu tinha uma
paixão tão grande, como tantos cole-
gas ou até mais, porquê não tentar
o meu sonho?... tinha a certeza que
iria conseguir. Acho que a vida não
teria fundamento, se não lutássemos
por algo especial
”, justifica.
O seu objetivo passava por, “
viver a
felicidade dentro da arena,
” e nunca o
fato associado a ser a primeira mulher
a tomar a alternativa, “
... todos os
passos que fui dando eram simples-
mente para me divertir, uma paixão
imensa, puder estar numa arena a
viver aquele momento que depois se
acaba por partilhar com o público.
Mas principalmente viver o momento
para mim…Quando sentimos a satis-
fação do público sentado nas banca-
das é fascinante, consigo transmitir
a minha paixão, e as pessoas vibram
ao senti-la
”, diz com entusiasmo.
Para a Sónia os cavalos sempre
foram a sua grande paixão profissional,
embora tenha traçado paralelamente
o objetivo de conciliar com uma licen-
ciatura, inicialmente ainda lhe ocorreu
ser veterinária, mas a escolha acabou
por recair sobre Gestão do Ambiente.
“
Consegui conciliar os cavalos com
a licenciatura... embora não exerça.
Assim que acabei o curso disse:
vou-me dedicar a cem por cento à
profissão que gosto. Quando temos
na vida o privilégio de fazermos o
que se gosta, é tão bom! Como é
que posso dizer, não vou fazer isto...
vou fazer outra coisa que não gosto
tanto... se tenho este privilégio, vou
aproveitar.
”
A sua teimosia e persistência, até aos
18 anos, convenceram a família que
realmente não era uma brincadeira de
menina. “
Eu recordo-me que uma das
grandes birras que fiz para adquirir
o meu primeiro cavalo para começar
a tourear, foi greve de fala. Deixei
de falar ao meu pai uns dias, tipo
chantagem, e consegui!... O meu
pai dizia: - Sónia, isso é perigoso
quereres ser toureira não tem funda-
mento nenhum… E toda a família é
óbvio que tinha medo
”, recorda Sónia
com humor.
Na família somente um primo afas-
tado era campino. Sónia começou a
frequentar a Herdade da Torrinha, da
família Ribeiro Telles. Refere-se a essa
temporada como uma espécie de for-
mação, “
tive as primeiras bases e
o primeiro contato com o mestre
Ribeiro Telles, que é uma figura única
da Festa Brava. Embora nutra um
grande carinho por todos os colegas,
o mestre será sempre uma pessoa
que irei guardar no meu coração
”.
“
d i sse r am-me que eu
estava louca, que era um
capricho de menina. Eu disse
que queria ser toureira,