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Ao longo da sua carreira Sónia tem
sofrido várias lesões, mas nem sempre
a dor física é a mais dolorosa, no seu
pior registo fica a morte na arena em
Baião, do seu cavalo, de nome Benfica
vítima de uma paragem cardíaca de
forma inesperada, “
… o cavalo caiu e
eu fiquei debaixo dele com a perna
esborrachada, tive uma lesão gra-
víssima, rasguei um músculo todo
por completo, mas acima de tudo, o
pior, foi sentir que o cavalo estava
a morrer. Foi uma dor tão grande no
coração, senti uma coisa horrível,
aflitiva e inexplicável por sentir a
última respiração do cavalo. Não
acreditava como é que aquilo estava
a acontecer
”, recorda com uma mágoa
ainda muito presente.
Tem 14 cavalos, trabalha-os em fun-
ção das suas necessidades e aptidões,
e todos os dias está com eles. Muitas
vezes são adquiridos em função da
l inhagem, mas noutras ocasiões as
escolhas acontecem por paixão. Como
aconteceu com o seu melhor cavalo,
“
foi uma paixão que o meu pai teve
por um poldro de dois anos, o meu
pai viu-o e disse: eu adoro este pol-
dro, vou comprá-lo,…
” Também acon-
tecem por vezes negócios fracassados
em que os cavalos não têm aptidão
para tourear e têm que ser vendidos
para outras áreas para as quais possam
estar mais vocacionados.
No final da época de 2013, Sónia
ficou somente por Portugal a preparar
os seus cavalos para a próxima tempo-
rada, mas na época anterior toureou na
Califórnia, e fez uma corrida no início de
Fevereiro na Venezuela. Um dos seus
objetivos passa por realizar a época
em Portugal, e fazer depois a campa-
nha na América Latina, principalmente
Venezuela, Peru, Equador e México.
Experiência que considera muito boa
e com grande recetividade, sobretudo
pelos portugueses que estão sempre
muito saudosos da cultura portuguesa.
“
Nós não levamos nada, eles têm as
infraestruturas preparadas, e com
condições fantásticas para que nós
possamos chegar, treinar em con-
dições e conseguir realizar um bom
espetáculo.
” É fácil tourear com um
cavalo desconhecido? “
Não é tão fácil,
como é óbvio, mas há sempre aquele
cavalo que nós acabamos por ter
uma maior afinidade. Vamos uns dias
antes para pudermos montar e sentir
qual o cavalo com o qual consegui-
mos ter mais facilidade. Treinamos,
e acaba por resultar.
”
“
Quando estive na Venezuela foi
alucinante, 16 000 pessoas, e sendo
a primeira mulher a tourear naquela
praça, foi a loucura total. Uma cultura
completamente diferente, eles são
muito aficionados. Fiquei fascinada
e espero voltar à América Latina
”
,relata-nos com um bri lhozinho nos
olhos.
Após cada temporada, em que rea-
liza cerca de quarenta corridas, Sónia
fica com saudades e mais triste, “
falta
qualquer coisa! Claro que há sem-
pre o treino diário, e também tenho
sempre a casa cheia ,… dou aulas
a miúdos que não só querem ser
toureiros, como gostam de montar
a cavalo, acabo por andar distra-
ída…, mas quando chega a última
corrida digo à minha irmã: estou a
ficar deprimida
”.
Em relação ao passado não alteraria
nada, diz-nos “
voltaria a fazer tudo
igual. Se calhar com algumas corre-
ções e com mais profissionalismo! O
que houve de mau foi uma aprendiza-
gem. Mas faz parte da própria vida.
”
Quanto ao futuro,
“
eu sempre disse: vou conti-
nuar a tourear até me sentir
bem psicologicamente, fisica-
mente, e que seja do agrado
do público
”,
refere com determinação.
Sónia Matias é uma lição de luta e
perseverança, um exemplo de que não
devemos abandonar os nossos sonhos
e os nossos ideais por mais estranhos,
difíceis e distantes que nos possam
parecer. Uma paixão que nasceu em
menina, cresceu com a família, e que
arrasta multidões. Uma referência no
panorama tauromáquico nacional, que
vive a sua profissão com uma paixão
contagiante. Agradecemos a sua dis-
ponibilidade e louvamos a sua simpatia.
a
Quando estive na Venezuela
foi alucinante, 16 000
pessoas, e sendo a primeira
mulher a tourear naquela
praça, foi a loucura total.