Odeia que lhe digam que esteve bem,
quando na real idade sabe que há
pormenores que podem e devem ser
melhorados. Depois de cada atuação
no regresso a casa ou no hotel,tem por
hábito rever e comentar o desempenho
com a sua equipa, “
gosto imenso de
falar com a equipa, ali no momento,
acabamos por ter as imagens mais
presentes, ainda estamos bem quen-
tes com todo o espetáculo vivido, e
entre a equipa trocamos ideias. Há
sempre um que viu um pormenor que
outro não viu, é tentar corrigir para
que no outro dia se melhore
”.
Quando questionada sobre quem é
o seu maior crítico, logo agiliza a res-
posta, “
é a minha mãe acho eu, o meu
pai é um querido acha sempre que
sou a melhor.
” E consegue separar o
facto de ser seu apoderado, e seu pai?
“
Ele consegue, mas por vezes acha
que sou sempre a melhor por ser a
filha. A mãe é mais rígida e muito
critica.
” Sónia aceita bem as criticas,
“
farto-me de rir às vezes, porque se
vê um laço descaído de um lado... a
mãe nota logo e faz o apontamento.
Até esses pormenores estéticos são
bastantes importantes e são depois
falados em casa sobre o que se deve
alterar e melhorar.
”
Existem vários aspetos que podem
definir a aptidão de um touro, “
quando
estamos nos curros a vê-los é real-
mente o aspeto morfológico, há algu-
mas condicionantes que nos dão a
indicação: será um touro que vai
humilhar ou um touro que vai marrar?
E por vezes já toureamos touros que
são irmãos ou filhos do mesmo pai, e
conseguimos entre nós trocar ideias
relativamente à linhagem dos touros.
Mas por vezes, como se costuma
dizer há dois filhos do mesmo casal
e são completamente diferentes. Mas
pelo menos vamos com essa ilusão
teórica quando nos toca esse touro
”.
À saída do touro, é feita a primeira
avaliação, em função do seu compor-
tamento assim é desenvolvida a lide.
Os piores touros são os que vão para
as tábuas, quando o touro vai para o
meio da arena tudo se torna mais fácil.
Em todo o país existe público aficio-
nado, no entanto, demonstram-no de
diversas maneiras, “
os do Alentejo e
Ribatejo são os aficionados enten-
didos da festa brava. No Ribatejo
o público é muito aficionado, mais
crítico, vamos para outra zona, por
exemplo, na Nazaré é um público
mui to saudoso da festa na sua
grande parte composto por emi-
grantes super aficionados, mas que
vêm para se divertir
”.
Numa altura em que são cada vez
mais as vozes que se levantam na con-
testação das touradas, quisemos saber
se costuma ser abordada nesse sen-
tido? “
Já fui abordada. Na Póvoa de
Varzim fartei-me de rir, estava a haver
uma manifestação, então diziam algo
do género: “deixa o bichinho pastar,
vai para o Splash saltar”. As pessoas
são livres de se manifestarem e eu
compreendo que não gostem das
corridas, desde que não me chamem
nomes,... fico zangada, mas não
posso reagir
”.
Durante o primeiro ano de faculdade
e perante os colegas, Sónia passou
despercebida, “
eu sempre fui muito
discreta... o que estragou tudo foi
quando entrou um colega meu que
também era forcado então claro
toda a gente ficou, a saber, quem
eu era.
” As opiniões dividiam-se em
relação à aceitação da sua atividade,
alguns manifestavam o seu orgulho, os
que não gostavam manifestavam certa
admiração, “
pelo facto de eu conse-
guir ter uma conversa coerente com
eles e de compreendê-los. Alguns
foram a corridas, e disseram não
gosto, outros disseram, realmente
eu dizia que não gostava, mas ainda
não tinha experimentado...isto até é
um espetáculo diferente, depois de
estarmos aqui deixamo-nos envolver,
e não é o que temos em mente
”,
justifica Sónia.
Quanto à sua participação no pro-
grama televisivo Splash, Sónia assume-
a como “
uma experiência fantás-
tica
”, em que teve um bocadinho de
medo também extensível à família, pois
quando aceitou o desafio, já tinha ini-
ciado a época e poderia contrair alguma
lesão e prejudicar o seu desempenho
profissional,
mas tinha que continuar os meus
treinos diários, já estava em corri-
das. O último treino era ao sábado
de manhã, eu ia a correr, toureava
à noite, e ao domingo era a gala.
”
Sónia superou o medo e foi mesmo a
primeira mulher a saltar de cabeça da
prancha dos dez metros.
“
… e alei jei-me bem, mas
fingia que não me doía nada,
quase não me conseguia
mexer...
Sónia é uma cavaleira
muito exigente e
perfeccionista com o
seu desempenho, e no
final de cada tourada
é por vezes a maior
critica.