Reportagem
O
concelho de Odemira tem uma
diversidade de paisagens inigua-
láveis, que se estendem do rio, às mon-
tanhas, à planície, e às suas praias que
integram o Parque Natural do Sudoeste
Alentejano e Costa Vicentina. Trunfos
valiosos para um concelho que sabe
receber, daí não se estranhar a quan-
tidade de estrangeiros que sobretudo
nas últimas duas décadas elegeram o
concelho de Odemira para se fixarem.
Um inestimável património cultural e
artesanal. Não é difícil de encontrar um
estrangeiro que tenha uma história inte-
ressante para contar. O nosso encontro
com Helena Loermans, deu-se quase
por um acaso, mas há momentos feli-
zes, e nós tivemos o nosso neste final
de tarde em Odemira.
He l ena Loe rmans , nasceu na
Holanda, mas vive em Portugal, no
Alentejo há mais de 25 anos. Tem, ses-
senta anos de idade que se escondem
atrás de um rosto de pele clarinha,
olhos azuis que denunciam as suas
origens, portadora de um sorriso e sim-
patia contagiante. Como é bom estar
próximo de pessoas que se sentem
realmente felizes! Encontramo-nos na
fábrica de Chocolates Artesanais da
Beatriz, onde agendamos a nossa visita
para o próximo ano. Helena toma um
chocolate quente, é tecedeira e logo
se disponibiliza para nos mostrar o seu
atelier
, que fica a algumas centenas de
metros do local onde nos encontramos.
Aceitamos o convite, a tarde fria con-
vida a passadas largas rua acima, em
Odemira é mesmo assim, rua acima,
rua abaixo, são poucas as ruas planas.
O
atelier
fica no meio de duas ruas,
é um local acolhedor de dois pisos, e
uma mezzanine com três teares, fios
e mais fios. Numa outra divisão uma
pequenina loja, onde expõe os seus
artigos, no piso de baixo mais um tear.
Helena conquista-nos de imediato.
Quisemos saber o que a trouxe a Ode-
mira, e de uma forma ternurenta logo
nos responde, “
uma história de amor...
e valeu a viagem! O que ficou foi
a paixão e o amor pelo Alentejo.
Depois ficou o amor pela luz, pela
paisagem e pelo território e final-
mente quando conheci melhor os
portugueses...decidi ficar. Eu gosto
dos portugueses
”.
A tecelagem surgiu na vida da Helena
como um
hobby
, na altura em que era
analista médica, e trabalhava num labo-
ratório de investigação científica, anali-
sando e pesquisando tecidos humanos
e animais ao microscópio.
Abandona o projeto cient í f ico,
quando começa a diminuir as capacida-
des de trabalho e opta por, dedicar-se
a tempo inteiro ao seu
hobby
. “
Depois
fui estudar mais, porque eu sou muito
autodidata na área da tecelagem.
Só quando vim para Portugal é que
comecei a trabalhar mais a sério,
também comecei a ir para a escola.
Vou o mais que posso a Florença,
a uma escola de tecidos e tecela-
gem. É uma antiga fábrica de tecidos
de tecelagem Jacquard, que é uma
tecelagem mais complexa. Lá fazem
veludo, tudo manualmente
.” Diz-nos
Helena sentada a um dos teares.
Helena prossegue e conta-nos as
suas experiências formativas feitas em
Itália, “
fiz um
workshop
com a dura-
ção de três meses, uma residência
artística, tenho ali um tecido que fiz
lá, nessa escola aprende-se a fazer
tecelagem mais complexa. Aprendi
também a fazer desenho através
do computador, que tenho também
neste atelier, é a ligação da tecnolo-
gia com a parte artesanal
”.
Helena
Loermans,
do microscópio para o tear
Texto:
Otília Costa
Fotos:
Adelaide Queirós
Helena explica-nos que numa tece-
lagem mais simples basta ter dois
fios. Para texturas mais complexas
adicionam-se mais fios, apontando
para um dos teares que tem doze fios,
e de seguida para outro em que os fios
estão divididos por vinte e quatro. Junto
a este, aponta-nos para um sistema
que possibilita antecipadamente que
sejam programados os levantamentos
das linhas por meio de uns pins que
ocupam uns buracos numa estrutura de
madeira. A passagem de cada um dos
vinte e quatro fios tem que estar progra-
mada. Num outro tear a programação é
feita por uma interface eletrónica, é um
dos primeiros motores que foi utilizado
no processo experimental da imple-
mentação de dispositivos eletrónicos
em teares manuais, decorria o ano de
1987. Num outro tear todo o processo
é manual e a ordem do levantamento
dos fios sai dos pés da Helena, “
cada
pedal é uma programação, a parte
de tecer é toda manual, o que está
mecanicamente ou eletronicamente,
embutido é a parte da textura, do
levantamento
”.
É este levantamento que vai ordenar
o levantamento dos fios, para a trama
passar e ir criando os formatos e tex-
turas desejadas.