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A exemplo do que acontece com
muitos estrangeiros, Helena numa fase
inicial também se fixou num monte
isolado, “
percebi que não conseguiria
viver assim para sempre, aprendi a
língua e na altura pensei em frequen-
tar uma escola de tecelagem, porque
já dava formação por Portugal inteiro.
Pensei em matricular-me na escola,
mas não aconteceu. Depois ainda
pensei, vou tirar a carta de camio-
nista e comprar um camião para criar
um
atelier
lá dentro, mas, acabei por
fixar-me aqui em Odemira há treze
anos. Os primeiros 10 anos, andei
pelo país com uma carrinha pequena,
com os teares lá dentro e dava for-
mação na área da tecelagem,…As
regras das formações mudaram, eu
também achei que depois de 10 anos
era suficiente, agora dou aqui no
atelier
,
master classes
e
workshops
.
É mais fácil para mim as pessoas
virem cá.
” Partilha Helena connosco
rebuscando um feliz saudosismo dos
tempos de nómada.
Helena é exigente e seletiva na maté-
ria-prima que utiliza, e faz questão de
nos referenciar algumas lãs, “
esta lã no
tear, é merino, superfino com angorá,
a parte de trama é tudo caxemira,...
O fio branco é o fio dito inteligente,
é uma lã tratada com nanotecnologia
que ganha a capacidade de regular a
temperatura. Com isto costumo fazer
echarpes e golas, mas também man-
tas para bebés.
” Dos fios nobres e das
mãos da Helena saem maioritariamente,
“
echarpes, mantas, xailes, golas e
punhos
”, quase todos os produtos
destinam-se à venda direta no
atelier
.
Utiliza um
blogue
e o
facebook
, para
promover os seus produtos.
Quanto à origem da matéria-prima,
“
gostava de comprar tudo em Por-
tugal, mas infelizmente não consigo
comprar cá quantidades pequenas.
No verão trabalho mais o linho e
compro-o na Suécia, a caxemira
e esta lã, vem toda de Itália, o fio
dito inteligente vem da Áustria, mas
compro o mais possível aos agentes
portugueses...
”.
Comprar em quantidades peque-
nas é uma barreira que se estende
um pouco por todo o mundo, o que
exige uma procura constante, “
mas
mesmo assim, este fio inteligente
não é possível arranjar em poucas
quantidades, às vezes tenho sorte, e
outras vezes não. O linho é possível,
nos países nórdicos, faz-se muita
tecelagem por isso tenho facilidade
em o comprar
”.
“
Fazer uma peça leva mui tas
horas, e se eu fosse contar cada
uma delas se calhar não as estava a
fazer. Mas a verdade é que eu gosto
muito de fazer cada peça, e acho
que o mais importante é fazermos
uma coisa pela qual somos apaixo-
nados, assim ficamos mais felizes.
Sou uma tecedeira com paixão por
aquilo que faço,
” refere Helena que
nos lança um exercício, “
imaginem
que os fios passam pelo menos 1 vez
pelos meus dedos, aqui tenho 720
fios, quando acabar tenho que atar
720 fios, depois cada centímetro tem
quatro passagens, portanto vocês
fazem depois as contas...é muito
tempo, a parte de tecer mesmo...é
mais rápido mas mesmo assim são
4 fios em cada centímetro, uma gola
pode ter 40,60 ou 80 centímetros
”.
Helena teve uma boa aceitação na
comunidade, hoje faz parte da Associa-
ção de Artesãos, e partilha connosco
a experiência que teve início há três
anos, com o Natal no Mercado, evo-
luindo nos dias de hoje para a Vila no
Mercado, que se realiza uma vez por
mês, e que junta todos os artesões e os
comerciantes, “
é interessante porque
nem todas as pessoas acham ou
passam por aqui facilmente. E com
este mercado o atelier tem outra
visibilidade
”, refere Helena fazendo
alusão às vantagens da iniciativa.
Quando questionada em relação
aos projetos futuros, responde de uma
forma ponderada, “
não sei, nós não
sabemos o futuro, mas eu posso já
dizer que tenho um projeto a partir
de Fevereiro, vem para cá uma jovem
empreendedora, num projeto que
se chama Erasmus, vou ser
host
empreendedora de acolhimento. É
uma jovem galega que vem estagiar
três meses, vamos mesmo pegar nas
mantas de bebé... estes três meses,
e vamos as duas fazer trabalhos
em tecelagem. E de resto continuar
com o meu trabalho, o próximo fio
que eu gostava de fazer é a vicuña.
Se eu encontrar um patrocinador ou
alguém que queira, eu já encontrei
um fornecedor... por enquanto tra-
balho a caxemira
”.
Os preços das peças aumentam
com o tamanho e complexidade das
mesmas, os clientes não faltam, “
sim,
há sempre clientes para produtos de
qualidade e de luxo
”.
No verão, He l ena faz também
guarda-sóis com fitas de tecidos, que
por enquanto guarda numa caixa de
cartão de grandes dimensões, “
este
projeto começou com uma brinca-
deira e depois foi evoluindo
”.
“
Que me sinto aqui integrada e
feliz isso é verdade
”, diz-nos Helena
que ao longo da nossa conversa nunca
perdeu o sorriso feliz de quem vive de
forma apaixonada a sua profissão.
a
Reportagem