Página 39 - Cerimonial Magazine 2014

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Falcoaria
,
Reportagem
M
arco Rainha, 37 anos natu-
ral de Santiago do Cacém, é
Coordenador de Falcoaria na empresa
Fotosouvenir, na Madeira. Empresa
que detém atualmente espetáculos
com animais no parque aquático do
Algarve, Aquashow e no Aquaparque
de Santa Cruz, na Ilha da Madeira. É
um dos cerca de quarenta falcoeiros
existentes em Portugal entre profis-
sionais e não profissionais.
Ingressou há alguns anos no
Badoca Park, para trabalhar com
mamíferos, longe de imaginar o que
o futuro lhe reservava, depois de ali
mesmo assistir a uma apresentação,
… ainda não tinha tido qualquer
contacto com a falcoaria ou com
treino de aves, nem ligava muito a
aves, mas quando vi aquilo fiquei
maravilhado. Depois em conversa
com a Badoca e o falcoeiro fran-
cês acabei por conseguir tirar o
curso,... a partir daí nunca mais fiz
outra coisa
”.
Admite que, “
umas aves são mais
fáceis de treinar e outras são mais
difíceis
”, mas que todas têm apti-
dões para serem treinadas.
As aves, para os espetáculos são
treinadas de acordo com o que fazem
na natureza, simular uma caçada,
ou fazer um voo picado, em que a
ave sobe a grandes altitudes para
mergulhar de seguida a grande velo-
cidade, dependendo do tipo de ave,
como nos explica o Marco, “
com
um bufo real ou um mocho real é
impossível subir a grande altitude
e fazer um voo picado, pois não é
isso que ele faz na natureza, eles
fazem voos rasantes por cima das
pessoas, são aves de baixo voo,
já os falcões são aves que caçam
a grande altitude
”.
A idade ideal para a iníciação de
treino numa ave é aos seis meses,
mas se o treino se iniciar com a ave
já adulta terá igualmente capacida-
des. “
Se forem noturnas (mochos,
corujas) o ideal é cria-las à mão
desde que nascem, para elas terem
uma relação progenitor/cria, isto
porque as noturnas ligam-se pra-
ticamente só por instinto, não têm
muita inteligência porque o crânio
está quase todo ocupado pelas
cavidades oculares, sobra pouco
espaço para o cérebro. As notur-
nas são treinadas de forma dife-
rente das águias e dos falcões
”,
remata-nos Marco. Devem ser duas
a três pessoas no máximo a tratar a
mesma ave, “
elas escolhem a pes-
soa a quem se ligam mais
”.
As aves reagem de acordo com a
espécie, “
as noturnas reconhecem
mais o som, a nossa voz. As diur-
nas, falcões e águias, é a visão.
Eles têm o chamado cérebro visual,
respondem a estímulos visuais.
Eu quando estou a trabalhar com
uma águia ou um falcão, se colocar
um boné que me tape a cara e a
chamar, ela já não vem. Ela olha e
não me consegue identificar, então
não vem
”.
O estímulo das aves é sempre
a comida, Marco não é indiferente
aos comentários que habitualmente
para além dos
espetáculos…
Texto:
Otília Costa
surgem dos menos informados, “
a águia só vem porque tem fome
e lhe dão comida”
, para logo argu-
mentar que,
“não é fome, à que
distinguir bem, a fome do apetite,
quando eu lhes dou comida e as
faço voar, estou a devolver a ener-
gia que ela gastou no voo
”.
As aves de rapina são sujeitas
a pesagens diárias, Marco justifica
o seu ponto de vista com alguns
exemplos, “
… a águia de harris,
para trabalhar numa demonstra-
ção, tem que estar num peso mais
elevado do que por exemplo se eu
quiser ir caçar com ela, isso vem
do instinto da ave... se eu a chamar
sem comida ela vem também, mas
vem só uma, duas ou três vezes,
à quarta já não vem porque está a
gastar energia no voo, e não lhe é
devolvida
.”