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“
Não as posso ter com fome,
porque se estiver a trabalhar numa
demonstração e passa um pombo
ou um rato, acaba a demonstra-
ção,... Aí surge o instinto do preda-
dor, elas não vão caçar porque não
têm fome, e não vale a pena o risco
da caçada, porque elas às vezes
também se magoam a caçar.
”
Quanto à al imentação, pintos,
ratos, ratazanas, codornizes ou pom-
bos, são fornecidos encaixotados e
congelados por uma empresa fran-
cesa que fornece alimentos para os
zoos.
Em Portugal, para esta atividade,
as aves têm que nascer e serem
criadas em cativeiro e posteriormente
registadas no Instituto de Conserva-
ção da Natureza e das Florestas. Só
é permitida às empresas licenciadas
para o efeito a posse de aves de
rapina, ou a detentores de licença
de falcoaria (carta de caçador com
opção, cetraria).
As aves estão dotadas de um sis-
tema de GPS, no caso de se perde-
rem será mais fácil a sua localização.
Para as aves de voo alto, a passagem
de uma avioneta ou de um parapente
pode ser motivo para se assustarem.
Para uma ave nova, ultrapassar uma
barreira de árvores desconhecida,
pode ser um fator para se perder.
Se posteriormente não fossem cap-
turadas, acabariam por morrer, não
teriam capacidade de se adaptarem
ao cl ima ou seriam atacadas por
outros predadores.
Portugal assistiu nos últimos anos
à proliferação das Feiras Medievais,
que vão acontecendo um pouco por
todo o lado. Como consequência
desta tradição cultural, foram muitas
as empresas que surgiram e que têm
atividades de falcoaria, dedicadas só
às feiras.
As aves de rapina tem necessida-
des diferentes de outras aves, uma
ave granívora, como um pardal tem
necessidade de andar o dia inteiro de
um lado para o outro, as rapinas são
aves predadoras, voam para caçar
e para se alimentarem. “
Assim que
caçam e se alimentam ficam pelo
território, já não andam a voar alto,
não querem gastar energia porque
não sabem quando vão ter opor-
tunidade para caçar outra presa.
”
As aves que vivem em cativeiro
têm uma vida mais longa, qualquer
águia vive no mínimo 30 a 35 anos,
no entanto o casal mais velho que se
conhece de águias reais tem 90 anos.
Marco considera a falcoaria quase
“
um modo de vida e uma maneira
de estar.
” Tem que se gostar, requer
“
muita paciência. O treino é muito
lento, treinar uma coisa de cada
vez. Os treinos ao início são de 5
minutos. Não é necessário estar
com a águia o dia inteiro, porque
não as podemos cansar.
”
As aves ao invés de outros animais
têm a particularidade de só responde-
ram a estímulos positivos, “
se a ave
estiver farta eu tenho que parar o
treino, porque se continuar ela vai
embora
”.
Numa fase em que a ave está apta
às demonstrações, o espetáculo é
o treino dela, embora para a ave
represente uma caçada a sério. “
Ela
está a voar, e quando faz um deter-
minado comportamento, recebe
o alimento como se capturasse a
presa. Com as rapinas funciona
tudo com simulações de caçadas.
Ela cada vez que pousa na luva e
come é como se tivesse agarrado
uma presa.
”
As aves são treinadas a tolerar as
pessoas, os aplausos surgem como
sons inofensivos. A Falcoaria não é
só espetáculos e caça, também visa
a conservação e a reintrodução de
espécies em vias de extinção, por
isso mesmo a Falcoaria foi conside-
rada Património Cultural Imaterial da
Humanidade pela UNESCO em 2010.
No Gerês, a Águia Real, está a ser
reintroduzida através de aves treina-
das em falcoaria, aves que nasceram
em cativeiro e que foram ensinadas a
caçar as presas ali existentes.
Reportagem