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ntegrada na reserva natural do
Estuário do Sado, a Carrasqueira
é uma pequena povoação, que faz
parte da freguesia da Comporta,
no concelho de Alcácer do Sal. Da
pequena aldeia ribeirinha situada na
margem esquerda do Estuário do
Sado, avista-se a poente, a península
de Tróia onde se localizam as exten-
sas praias de areias brancas com as
suas dunas que contrastam com os
sapais do lado de cá.
O Rio Sado tem a part icular i -
dade de juntamente com o Rio Mira,
serem os únicos que correm de sul
para norte. Esta peculiaridade vem
acompanhada de algo único, um
Cais Palafítico, erguido ao sabor da
arquitetura popular na década de
50/60, sendo atualmente o único
existente na Europa.
Para que a pesca fosse possível,
nasceu a necessidade de criar aces-
sibilidades para que as embarcações
não ficassem à mercê das marés.
Com a maré cheia a água galgava
os terrenos agrícolas nas imedia-
ções, quando vazava deixava uma
imensidão de centenas de metros de
lodo impossíveis de transpor. Assim
surgiram as primeiras estacas e as
primeiras tábuas, no sentido de avan-
çar alguns metros na barreira de lodo.
A população da pequena aldeia
divide-se na sua labuta diária entre
a pesca e a agricultura. Com o mês
de Novembro a arrastar-se para o
fim, pusemos-nos à estrada à des-
coberta da Carrasqueira e do seu
Cais Palafítico. O sol brilha, mas as
temperaturas são baixas. Atravessa-
mos inicialmente a pequena aldeia
de casario branco, antes da terra
batida que nos leva ao cais. Em terra
um pescador pinta o casco de uma
embarcação. A maré está vazia, os
nossos olhos mergulham na imensa
paisagem lamacenta esverdeada. O
silêncio é rasgado de quando, em
quando pelo martelar, de alguém
que não conseguimos ainda avistar.
Aproximamos-nos da impressionante
extensão de irregulares estacas em
madeira que se estendem por cen-
tenas de metros cravadas no lodo.
São estacas e mais estacas, paus
e mais paus, passadiços frágeis em
madeira que dão forma a cais e mais
cais. Vão surgindo uns a seguir aos
outros, desenhando um verdadeiro
labirinto onde as embarcações de
pesca fazem a acostagem. Os barcos
nas amarrações assentam sobre o
lodo, caminhamos pelo passadiço
mais largo e de aspeto mais robusto
que dá acesso a todos os pequenos
cais, de quando em quando lá vamos
pisando umas tábuas mais estrei-
tas. Ao longo dos cais erguem-se
pequenas casas construídas igual-
mente em madeira, que servem de
arrecadações.
Percorremos toda a extensão do
passadiço, são metros e metros que
avançam pelo rio, a água é uma mira-
gem, a anteceder o último cais lá está
um pescador a martelar umas tábuas.
Abordamo-lo na disponibilidade para
trocarmos algumas palavras, logo
se disponibiliza avisando que tem
trabalho, não podemos ocupa-lo por
muito tempo. Joaquim Damas tem 53
anos, e 33 de profissão, a mesma que
tem acompanhado toda a família, “
os
meus pais e os meus avós também
eram pescadores
”, a lembrança
do cais guarda-a desde pequeno,
“
em miúdo comecei a aprender a
nadar aqui... está um bocadinho
mudado, vem mais pessoal, tem
mais cais, mas lembra-me bem
do cais quando era pequenino
.”
Interrogamo-lo sobre a origem e exis-
tência do cais, “
no tempo dos meus
avós não existia e começou-se a
iniciar no tempo do meu pai, nos
anos 50 talvez
”.
Cais
Palafítico
da
Carrasqueira
é
único
na
Europa
Texto:
Otília Costa
Fotos:
Adelaide Queirós