Reportagem
Quando questionado se na família
existem mais pescadores, pronta-
mente responde, “
na família somos
muitos, aliás, aqui é quase tudo
pescador. As mulheres também...
elas são as camaradas. São poli-
valentes fazem o trabalho de terra
e de mar e fazem parte da compa-
nha dos barcos, são as ajudas
.”
Habitualmente a tripulação com-
põe-se somente por duas pessoas,
quase sempre marido e mulher,”
os
jovens não estão a querer esta
vida, estão-se a desviar disto, já
só fica aqui a rapaziada de mais
idade
”, desabafa Joaquim, que tem
dois filhos, “
ele está na marinha e
ela está no comércio.
”.
Com uma pesca que assenta
sobretudo na captura de chocos, e
amêijoas, as preferências dividem-
se entre os pescadores. Os tempos
passados já foram mais proveito-
sos, Joaquim admite mesmo que já
existem por ali pessoas a passarem
dificuldades e a serem ajudadas pelas
entidades sociais.
Joaquim aponta-nos alguns argu-
mentos para o fracasso das reser-
vas e também algumas soluções, “
a
pesca devia ter mais fiscalização
e mais orientação. Está pouco fis-
calizada e é muita gente a querer
multar. Há muitas restrições, mas
às vezes as restrições só não che-
gam, devia haver aqui alguém que
nos ajudasse a cultivar... já que se
faz piscicultura do rio para fora.
Também se podia cultivar amêijoas
e peixe. Começa a escassear. E
tínhamos necessidade de ajuda...
há alguns anos houve conversa
que nos vinham ajudar, mas não
passou disso.
”.
O inverno é a altura mais fraca de
pesca, “
isto aqui é sazonal. O choco
começa a entrar aqui em Fevereiro,
quando chega a Junho ou Julho
começa a abalar. Já fez o ciclo de
reprodução e vai-se embora
.” Os
pescadores aproveitam para fazer os
trabalhos de manutenção, cada um
é responsável pelo seu cais.
Poderíamos dizer que neste caso
os pescadores andam sempre ao
sabor da maré, pois não é possível
sair ou atracar com a maré vazia.
Tarefas só possíveis com meia maré,
para isso muito contribui os fundos
chatos das embarcações que possi-
bilitam que possam navegar em meio
metro ou menos de água, como nos
expl ica Joaquim. “
Todos os dias
chega aqui a água, pode ficar um
bocadinho mais alta ou mais baixa,
consoante se a maré é morta ou
viva. Se é maré viva, monta o pas-
sadiço, se é maré morta, fica a
meio da estacaria não chega ao
passadiço.
”
Quando lhe perguntamos se a
sua mulher também anda ao mar,
responde com prontidão por entre
um sorriso, “
Sim, anda, é a minha
companheira de longos anos, 33
anos. Mantenho-a e faço questão
de mantê-la.
” Admite que é fáci l
lidar com a mesma pessoa em casa
e no trabalho, “
nós somos marido e
mulher mas temos uma afetividade
familiar quase como irmãos. Há
mais proximidade. Ajudamos-nos
mutuamente um ao outro, enfim à
momentos em que discutimos mas
isso é normal.
”
Quanto ao futuro da pesca por
aquelas bandas, Joaquim Damas
não está muito confiante, “
acho que
a pesca não tem futuro, várias
embarcações estão encosta-
das aos muros a apodrecerem e
ninguém faz caso delas. Talvez
a minha daqui a um tempo lhe
aconteça a mesma coisa. Há várias
embarcações à venda e ninguém
as consegue vender. Ninguém quer
seguir isto. Quando eu entrei para
aqui...queria comprar uma embar-
cação e não havia fui comprar a
Alcochete, porque aqui não havia
embarcações à venda e havia aqui
centenas delas à pesca.
”
Nos dias de hoje o número de
pessoas matriculadas na capitania
anda, “
à volta de umas 50, mas
a viver disso 100 ou 150. Com o
desemprego quase todas as pes-
soas vão pescar um ou dois quilos
de amêijoas para sobreviver
”, diz-
nos Joaquim.