Página 54 - Cerimonial Magazine 2014

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Texto:
Irene Serrão
Professora do Ensino Básico e Secundário
E
ste texto tenta retratar aspetos da
educação em Portugal no pas-
sado recente e na atualidade, tra-
çando uma trajetória histórica de seu
desenvolvimento e transformações,
que culminam na atual situação do
sistema educativo e familiar.
Na segunda metade deste século,
podem distinguir-se três fases. Na
primeira (1950-60), há um processo
de acomodação do sistema de ensino
vigente desde a década de 30 à reali-
dade socioeconómica do pós-guerra.
Numa segunda fase (1960-74) ,
assiste-se a uma maior abertura do
sistema, com uma nova tomada de
consciência do atraso educacional do
país. Na terceira, e com a mudança
de regime trazida pela Revolução de
Abril (1974-97), colocar-se-ão novos
desafios e o sistema de ensino irá
conhecer importantes transforma-
ções qualitativas e quantitativas.
A real idade da Educação que
temos hoje, faz-nos reflectir, leva-nos
a comparar e questionar, buscando
os porquês. Há 40 anos a escola
era fechada, tradicional e os profes-
sores também; a relação professor/
aluno era apenas o de transmissor do
conhecimento os alunos eram passi-
vos, mas apesar de tanta repressão
os professores eram valorizados e o
ensino era eficiente.
Ou seja,
a escola era tudo o
que de mais valioso existia
para um futuro mais risonho.
Ler, contar e estudar era uma ale-
gria, os jovens faziam a 4ª classe,
depois faziam o 1º e 2º anos do ciclo
preparatório. Se os pais pudessem
financeiramente os jovens seguiam
para o liceu (3º, 4º e 5º anos). Os que
concluíam o 5º ano já conseguiam um
bom emprego, mas aqueles cujos
pais conseguiam, com muito sacrifí-
cio dar-lhes a oportunidade de tirar
o 6º e 7º anos e depois, quem sabe,
tirar um curso superior, era o máximo.
Um jovem tirar um curso, nesta
época, era o climax, a explosão de
alegria e de satisfação. “O filho de
(não importa quem) é doutor, enge-
nheiro”, era uma condição social
inimaginável para quem tinha poucos
recursos, porque naquele tempo só
os filhos de senhores abastados é
que estudavam ...
Os tempos mudaram com a
mudança do regime. Tudo mudou
na sociedade portuguesa; a escola,
o liceu e a universidade, passaram
a fazer parte das preocupações das
famílias. A escola é aberta aos alu-
nos e à comunidade, os professores
exercem mais do que a sua função,
de transmissor de conhecimentos,
ele é mediador, amigo e assistente
social, é mais capacitado e flexível;
porém, não são valorizados. Já os
alunos numa elevada percentagem,
são agressivos nos comportamentos,
não reconhecem o valor que a escola
e os seus meios proporcionam.
A real idade é que ocor reram
mudanças bruscas na educação. É
certo que vivemos a era do regime
militar, tudo era controlado, não pen-
sávamos e nem agíamos por conta
própria, mas sob ordens, e quando
a democracia tomou conta do país,
todos passaram a ser livres, donos
de seus passos e decisões e muitos
confundiram liberdade com liberti-
nagem e os valores foram perdidos.
O ensino começou a crescer e
o país a ficar com mais letrados,
começando a proliferar os cursos nas
universidades públicas e privadas, e
os jovens a tomar lugar nas letras,
nas ciências, no direito, na medicina
e também nas biologias/engenharias,
na educação-fisica, na informática, na
gestão, no ensino e hoje assistimos a
um excesso de licenciados que não
encontram resposta no mercado de
trabalho, cada vez mais deficitário
para as necessidades do país. Já
A Educação
Ontem, Hoje
e Amanhã
É preciso mudar as mentalidades…