Página 81 - Cerimonial Magazine 2014

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F
omos ao encontro da portuguesa
Paula Sousa e do seu marido, o ita-
liano Massimo Villa, que abandonaram
uma vida agitada na cidade de Milão,
em Itália para abraçarem com paixão
e de corpo e alma, um projeto de uma
queijaria artesanal, naquele que é o
maior município português em extensão
territorial, Odemira.
A quei jaria, Caprino de Odemira
encontra-se em funcionamento há
cerca de três anos. A nossa conversa
tem lugar em sua casa, um antigo escri-
tório recuperado por Paula para habita-
ção, localizado no centro histórico, na
vila alentejana de Odemira, a poucos
minutos da queijaria. Receberam-nos
com simpatia.
Paula com 55 anos era fotógrafa,
Massimo de 65 anos era jornal ista,
fez rádio e televisão durante 30 anos
em Milão, onde vivia. Em determinada
altura vieram para Portugal, “
fazíamos
documentários para um canal televi-
sivo italiano, televisão pública e tam-
bém vários documentários, desde
arquitetura portuguesa, interiores,
arte…
”, conta-nos Paula, referindo-se
aos primeiros tempos que começaram
a visitar a Costa Vicentina.
Posteriormente, “
Massimo teve que
ir para Itália porque criou uma rádio
de jazz
online
, onde era o diretor,…
vivemos lá durante quatro ou cinco
anos. Em Itália já se previa que esta
crise europeia, cada vez ia ser maior,
e mais complicada. Trabalhar no
mundo da arte em tempos de crise
é uma incógnita enorme. Porque é o
primeiro campo em que basicamente
tudo é cortado. Eu fazia moda e
reportagem, são produções caras,
e cada vez era mais complicado.
Houve certa altura que nós perce-
bemos que tínhamos que pensar em
qualquer coisa que fosse mais sus-
tentável e não estar tão dependentes
dos media, e pronto, surgiu a ideia
de abrirmos uma queijaria.
” Diz-nos
Paula quando se refere ao impulso
responsável pelo seu projeto. A preo-
cupação foi sempre ser alguma coisa
que ambos gostassem tanto ou mais
do que tinham feito até então, porque
ela gostava muito de ser fotógrafa e ele
gostava muito de trabalhar em rádio.
A quei jaria surge porque ambos
adoram queijo, e são grandes consu-
midores. Começaram a perceber que
em França e Itál ia existem imensas
variedades de queijos, e quando vinham
a Portugal compravam queijos italianos
e franceses, porque achavam que os
queijos portugueses eram sempre a
mesma coisa, “
era sempre o queijo
de ovelha. E percebemos que talvez
houvesse ali uma oportunidade de
criar um produto de que nós gos-
tássemos
”.
De início ponderaram a localização
para a implementação do seu pro-
jeto. Paula é do norte, o que fez ainda
equacionar essa possibilidade. Mas o
clima favorável, as amizades já feitas
e o fato de já conhecerem a região,
e o gostarem da Costa Vicentina fez
com que a sua escolha recai-se sobre
Odemira. Ao chegarem alugaram um
pequeno espaço de uma queijaria já
existente no Mercado Municipal, depois
foi prepara-lo ao seu gosto. Para além
de todas as dificuldades inerentes a
qualquer projeto, Paula e Massimo
deparavam-se com um novo desafio,
tinham a matéria-prima, mas tinham
que desenvolver o produto final, confes-
sam que, “
claro que nós já sabíamos
que ia ser complicado mas foi mais
complicado do que aquilo que a
gente imaginou
”.
Gastronomia
Texto:
Otília Costa
Fizeram formação em Itália, onde
trabalharam numa quei jaria durante
alguns meses. Uma ajuda que se reve-
lou bastante útil “
, foi o fato do Mas-
simo ter um primo que fez queijos
a vida inteira, já se reformou, e que
é um grande queijeiro,… ele veio
aqui, ao todo 2 meses. Foi com ele
que realmente começamos a meter
a mão na massa e a experimentar.
O experimentar faz parte do pro-
cesso evolutivo de fabricação, mas a
curiosidade é o maior desafio, “
não me
vejo a fazer o mesmo tipo de queijo
a vida toda
”, diz-nos Paula.
Não têm funcionários, e são os dois
que asseguram todo o processo de
fabricação e a venda dos seus queijos.
De início confessam que a parte da
distribuição e a sua inexperiência foi a
mais complexa, o fato de em Odemira
estarem um pouco isolados, e os pro-
dutos terem de ser transportados em
frio foram obstáculos iniciais que têm
vindo a resolver continuamente. Tra-
balham seis dias por semana, e param
um mês por ano. De dois em dois dias
vão buscar o leite, que compram dire-
tamente a um produtor local.
Paralelamente à paixão com que
falam do seu projeto são conscientes
do “preço” que pagam pelo mesmo.
queijos feitos com paixão
Caprino
de
Odemira
,