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“
Ter uma queijaria é uma escravi-
dão é como ter animais, porque nós
não podemos dizer às cabras para
pararem de dar leite. Nós compra-
mos o leite ao produtor e temos um
compromisso,… não podemos dizer:
olhe, eu vou a Lisboa por isso venda
o leite a outra pessoa. E estamos
aqui sempre. Não podemos viajar
juntos, quando vai um fica o outro.
”
Defendem que os queijos são para
todos, e que isso se comprova pelo fato
de tanto venderam para lojas
gourmet
,
como para pequenas lojas ou a aprecia-
dores locais, não vendem um produto
de luxo, vendem um queijo que custa
6,50
€
, e que acaba por ser acessível.
Quanto aos canais de distribuição,
tem sido palavra passa palavra, “
e
neste momento são os próprios
clientes, as pessoas que tem as lojas
que nos procuram,
” atesta-nos Paula.
Os primeiros queijos vendidos foram
para um dos mais ilustres restaurantes
de Lisboa, o Tavares Rico, “
o chefe
comeu aquele queijo e adorou, e
decidiu que aquele queijo era o que
queria usar no restaurante... Os nos-
sos primeiros clientes foram pessoas
com influência o que de certa forma
ajudou a difundir o nosso negócio.
”
Remata-nos Paula com algum orgulho.
Têm uma produção muito limitada,
escoam tudo o que produzem, mas tem
consciência que têm que produzir mais
quantidade e que ainda não atingiram
um nível satisfatório, mas garantem
que as coisas estão encaminhadas
nesse sentido.
Confecionam quei jos de cabra e
queijos de vaca, em processos diferen-
tes, em tempos, e modos de cura, que
fazem questão de manter em segredo.
Comum a todos, é a paixão com que
são produzidos, “
conseguimos criar
na queijaria, uma segunda casa. Pas-
samos lá muito tempo, que prova-
velmente se torna a primeira casa
”.
Massimo acrescenta, “
uma coisa é
criar os queijos, e outra tarefa com-
pletamente diferente que também
ocupa muito tempo, é a venda e os
contatos, que é feita à noite, o tempo
que nos sobra nos intervalos é para
dedicar cada um às suas coisas. Um
pouco de desporto que tem que ser
feito porque a queijaria é um trabalho
muito físico. Por isso, nós temos que
fazer a manutenção física
”.
Quando interrogados se por alguma
vez se arrependeram de terem aban-
donado Milão e terem enveredado por
este projeto, logo nos dizem que não.
Paula e Massimo estão totalmente inte-
grados, e ganharam o respeito das
pessoas que de início duvidaram das
suas capacidades para fazerem quei-
jos. Massimo faz inclusive uma maior
reflexão, “
num lugar como este eu
julgo que só se pode viver fazendo
alguma coisa que seja muito ligada
ao território. Quem vem de fora para
uma vila como esta, se está a traba-
lhar com alguma coisa que envolva
o território ganha imenso respeito
das pessoas que aqui vivem. Nós
ganhámos mais ainda, porque nin-
guém acreditava, acho que isso foi
patente logo no principio... depois
ficaram maravilhados, porque nós
aprendemos a fazer bom queijo.
”
Hoje têm consciência que a queijaria é
uma mais-valia para a localidade, sendo
um produto que promove Odemira.
Quanto à origem do nome, Caprino
significa queijo de cabra em italiano,
e Odemira porque é justo referirem o
local, e soa bem.
Paula passou a vida a criar imagens
para os outros, agora foi altura de criar
a sua própria imagem. O processo
de criação é algo que lhes dá prazer,
defendem que continuam a ser duas
pessoas criativas, “
a criatividade é
parte fundamental no nosso traba-
lho... é ela que nos aguça a curio-
sidade e nos permite criar coisas
novas.
” Novo foi também os formatos
pouco convencionais que destinaram
a alguns queijos, forma de coração e
pirâmide, justificam a escolha pelo fato
do queijo se adaptar bem a essas for-
mas, “
Porque é que o queijo tem que
ser redondo? É claro que nem todos
os queijos se podem fazer naquele
formato. Mas nós escolhemos um
queijo que se adapta lindamente
à cura naquele formato.”
Massimo
logo diz,
“um dia iremos fazer queijos
noutras formas.
”
Quanto aos produtos novos, são
queijos de vaca em formato pequeno,
“
engraçado que o leite de vaca, e
o de cabra, são leites diferentes.
Quando se vive nos países do Norte
o leite de vaca continua a ser aquele
leite que nos conhecemos quando
éramos crianças. Em Portugal o leite
desapareceu e bebe-se uma coisa
que já não é leite, as pessoas têm
a ideia que o leite de vaca é uma
coisa horrível. Mas não é, o leite de
vaca é maravilhoso. O queijo de vaca
não tem a mesma cotação nacional-
mente que o queijo de cabra, mas
os melhores queijos do mundo são
de leite de vaca…. O queijo de vaca
é maravilhoso quando é feito com o
leite verdadeiro de vaca e quando é
feito com cuidado, e como deve de
ser. É um queijo maravilhoso, que eu
acho que às pessoas lhes trás um
bocadinho à memória a infância. Eu
já falei com algumas pessoas mais
velhas, e dizem que as faz lembrar o
leite que bebiam em criança, porque
as mães tinham vacas. No fundo
queremos provar que o queijo de
vaca é tão bom quanto o de cabra.
”
Massimo, acrescenta de imediato que
o leite de vaca é mais doce e mais
delicado que o de cabra.