Página 83 - Cerimonial Magazine 2014

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Gastronomia
Juntamente com familiares e ami-
gos assume-se como as suas próprias
cobaias, gostam imenso de experiencias,
eu às vezes naquela queijaria sinto
como se fosse uma espécie de oficina
experimental
”, remata-nos Paula com
entusiasmo.
Todos os queijos são sujeitos a dife-
rentes processos de cura, possuem
salas de cura específicas para garantirem
sempre a mesma qualidade em qual-
quer altura do ano, “
nós nesse aspeto
somos muito tecnológicos, não há
nada empírico.
” O período de cura pode
variar entre 15 dias a um ano, para o de
cura mais prolongada rotularam-no de
vintage
. “
Nós temos queijos com um
ano de cura, que provavelmente é
o queijo mais caro de todos, é uma
espécie de parmesão, mas atendendo
à pequena quantidade que produzi-
mos... fazemos só para dois clientes,
principalmente para um em Lisboa,
que já temos encomendas para 2014,
que vão ser entregues daqui a um
ano
”, refere Paula.
Quando questionados se aceitariam o
desafio para fabricarem um queijo com
determinadas características, caso um
cliente, o solicitasse logo respondem,
que estão sempre à espera de novos
desafios e que dentro dos seus conhe-
cimentos tal era possível.
Nunca fizeram as contas a quantos
queijos produzem por ano, e têm a cer-
teza se conseguissem mais quantidade
de leite de cabra, vendiam tudo.
Quanto aos projetos futuros são cau-
telosos, “
para já chega, nem pensamos
muito. A coisa vai evoluindo e vamos
vendo, quer dizer um projeto futuro
é continuar a fazer bons queijos...
”.
É uma atividade sustentável, mas
Paula é consciente, “
eu acho que qual-
quer pessoa que monte uma empresa,
os primeiros três anos é trabalhar, tra-
balhar e só lá para o quarto ano é que
se começa a tirar os lucros. Porque a
ideia de nos metermos num negócio,
e no próximo ano já estamos a trocar
de carro... não passa por ai. Passa
por viver
low profile
, e esperar que a
coisa comece a ter uma consistência
e depois só ai é que eventualmente
se começa a ganhar
”.
Os queijos de cabra apresentam-se
nas versões Pyramide e Coração, o
Curado Clássico, e o Caprino Forte,
para os queijos de vaca surgem em
versão Três Pimentas e Capricho com
Cominhos. São queijos diferentes dos
habitualmente mais comercializados.
Surgem em produção limitada, pelo
método artesanal, feito com rigor, com
sabores que tem tanto de intenso como
de delicados. Disponíveis tanto em lojas
gourmet
de Lisboa ou do Algarve, como
em mercearias em localidades peque-
nas. Para comer ao natural, com mel
ou compotas, em pastas, saladas ou
gratinados, já são utilizados por alguns
grandes
chefs
.
Partilham da mesma opinião quando
se referem aos portugueses, para Paula,
é uma coisa que eu acho que impede
que a sociedade se desenvolva,
cresça, um bocadinho de medo de
errar. Acho que no fundo, eu gosto
imenso dos portugueses enquanto
povo... mas, sofrem da síndrome
de que todos os países católicos
sofrem,... negativos, esta coisa do
fado,... é um povo um pouco triste,
melancólico,... muito acomodado e
conformista
”. Massimo é mais efusivo
quando fala dos portugueses. “
Têm
paciência a mais. O ano passado
quando começaram a cortar os sub-
sídios de natal aos funcionários públi-
cos, se isso acontecesse em Itália os
funcionários paravam... aqui continu-
aram a fazer tudo e não se juntam. É
impossível cortar de um dia para o
outro os subsídios de férias e natal...
Os portugueses não se libertaram das
décadas da ditadura… A sociedade
portuguesa ainda não conseguiu apa-
gar todos os seus fantasmas
”.
O sucesso do Caprino de Odemira
é somente o resultado de um projeto
fascinante, desenvolvido sem pressas,
e executado com amor e paixão. A
forma apaixonante com que falam do
seu projeto é a mesma com que as suas
mãos transformam o leite em queijos.
Ter consciência que em determinadas
etapas da vida, ainda há muita coisa para
fazer, mesmo que isso signifique grandes
mudanças. Nunca é tarde para iniciar um
novo projeto, por mais desconhecido que
ele ao início possa parecer. A história de
Paula e Massimo, não é mais que uma
grande lição de vida.
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