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Quanto aos va l ores da venda
recorda-nos que, “
no tempo da
minha mãe eram a dois tostões
a dúzia, agora é a 2,50
€
a dúzia.
”
Quando questionada se as receitas
saem sempre iguais, responde: “
mais
ou menos,… o tempo também
manda, se o tempo estiver húmido,
pegam-se umas às outras, se o
tempo estiver seco ficam melho-
res, mas também tem que ter uma
conta.
”
Depois de estendidas, e de lhes ser
dada a forma de losango, deixam-se a
secar antes de embrulhar.
Associados às alcomonias sempre
existiram os rebuçados que derivam
da mesma massa e posteriormente
são embrulhados em coloridos papéis
de seda, guarnecidos de franjas.“
O
pinhão é triturado e põem-se raspa
de l imão, é essa a diferença e
normalmente tem mais açúcar. É
mais doce. Para fazer o rebuçado
acaba-se por adicionar o pinhão
triturado em vez do pinhão inteiro,
com farinha e de maneira que a
gente faça uma massa que fique
capaz de estender à mão. E dar
este formato ao rebuçado.
”
Maria Luísa é presença assídua em
todos os mercados de Melides, que
acontecem ao 3º sábado de cada mês,
nas feiras anuais de Santo André, Meli-
des e na Feira do Monte em Santiago
do Cacém.
“
Pelas feiras as pessoas veem
e compram por curiosidade, mas
normalmente quem procura, são
aquelas pessoas que conhecem.
”
Quanto às que não conhecem, Maria
Luísa diz-nos que perguntam: “
O que
é isto!? Como é que será o sabor?
Acabam por comprar e às vezes
voltam.
”
Também não tem justificação para
o facto de a tradição nunca ter con-
quistado outras localidades. Partilha
connosco um episódio caricato, “
...
uma vez fui a Alvalade nem me
perguntaram o que eu estava lá
a fazer
”. Não vendeu? “
Nada, nem
sequer uma. Uma terra aqui perto
e desconhecem totalmente
”.
“
… As moças novas não que-
rem comer para não engordar, e
algumas nem gostam
”, remata Maria
Luísa quase a justificar o desinteresse
crescente pelo doce.
Quando questionada se daqui a 20
anos existirá alguém a confecionar
alcomonias, logo nos responde com
prontidão, “
Não. Alguém quer fazer
isto? Isto vai acabar. Porque esta
gente nova não quer saber, dá
muito trabalho.
”
Conhecemos um doce tradicional
raro, de confeção caseira, modesto e
sabor discreto, doçura suave, acessível
às bolsas menos providas e alheias a
pretensiosos requintes gastronómicos.
Não tendo adição de ovos, gorduras
ou álcool e não sendo sujeito a qualquer
tipo de fritura, poderão ser saboreadas
por qualquer pessoa. É um doce nutri-
tivo e sólido de longa duração, “
não
tem validade para consumir pode
estar semanas em casa
”, como nos
atesta Maria Luísa.
Um vestígio da cozinha mourisca
que sobrevive na pequena freguesia
de Santo André, cujos habitantes hoje
se orgulham do tesouro cultural aí con-
servado. Um elemento gastronómico,
histórico e cultural, um testemunho da
sabedoria feminina árabe e alentejana
a não deixar morrer.
a
Reportagem
Caso pretenda satisfazer a sua curiosidade, pode efetuar encomendas
com a nossa entrevistada pelo telemóvel
918 637 575
.