Histórias com Vida…
A primeira vez que pisou o palco
para cantar, foi no Cinema Império,
que hoje é uma igreja, onde decor-
reu o primeiro festival da canção, sem
televisão. Depois continuou a cantar
a gravar discos, e percorrer o país de
norte a sul em espetáculos. Recorda
ainda a experiência de ir cantar para
as tropas portuguesas destacadas para
a guerra em Africa, em que os artistas
foram obrigados a ir pelo Ministério da
Guerra. Foram perseguidos pelo medo,
“
naquela altura eu queria era fugir e ver
o meu filho e a minha filha... emagreci
10 kg
”, diz-nos Simone e recorda que
escrevia à mãe e as cartas não che-
gavam, fizeram 100 espetáculos pelo
qual receberam 10 contos, “
foi muita
hora a cantar e muitos sustos
”, uma
missão da qual não se arrepende, e
afirma mesmo que se fosse necessário
voltaria a fazer tudo de novo.
Não é catól ica, assume os seus
diferendos com a igreja católica, mas
mantém um cristo há mais de 25 anos.
Recorda ainda um crucifixo que man-
dou benzer, e que lhe foi oferecido há
alguns anos, e do qual não se separa,
“
quando estou muito aflita, ou num
sítio qualquer e está tudo muito
desaustinado, eu tiro o crucifixo e
não deixo ninguém tocar
”.
Ganhou todos os festivais da Figueira
da Foz, numa altura em que os mesmos
eram importantíssimos na vida das pes-
soas e do público. Simone penaliza com
alguma mágoa, os atuais formatos dos
festivais da eurovisão, que passaram a
ser meros espetáculos televisivos, em
que as orquestras foram substituídas
pelo
playback
. Simone não canta em
playback
, diz mesmo que não gosta de
cantar sempre da mesma forma, a não
ser que tenha mesmo que ser.
Simone é convidada juntamente com
Duo Ouro Negro e outros artistas a
acompanharem Amália Rodrigues numa
temporada no Olympia, em Paris. Vence
o Festival RTP da canção, com a Des-
folhada, aquela que viria a revelar-se o
maior êxito da sua carreira. Recorda as
grandes temporadas de trabalho que
realizou com o Victor de Sousa, e o
tempo em que trabalhou em todos os
teatros do Parque Mayer, questiona-se
sobre o facto das pessoas se esquece-
rem da fase em que fez muita revista,
e muito teatro.
Quando questionada porque é que
ultimamente não tem feito teatro, res-
ponde: “
é outra coisa que também
me espanta um bocadinho
”. Prosse-
gue com algumas referências a outros
trabalhos, em 2001, fez Marlene no
Porto e depois em Lisboa, fez Alma
Mahler-Werfe, em 2003, no Convento
dos Inglesinhos, em Lisboa, com uma
companhia austríaca em que represen-
tava em inglês e francês. Para o filho de
Simone foi mesmo a “
coisa mais bri-
lhante que viu
”, uma peça que Simone
inicialmente dizia que não queria fazer.
Recorda a telenovela, em que na
última cena que fez com Rui de Car-
valho e Nicolau, este lhe diz: “
Porra,
tu não sabes a atriz que és! Tens uns
tempos, uma calma, uma serenidade
”,
Simone prossegue com uma referên-
cia à sua primeira novela, em que Dª
Mariana Monteiro dizia, “
que eu tinha
os tempos de comédia da mãe dela, eu
chorei!
” Refere ainda quando esteve em
Brasília, com uma peça e à saída umas
senhoras que não sabiam o seu nome
lhe disseram: “
nós hoje acabamos de
ver a nossa Fernanda Montenegro
portuguesa
”, e chorou de novo…
“
Gosto muito de telenovela, gosto
muito de cantar, gosto muito de con-
versar... Eu gosto muito de tudo!
” diz
sem conseguir expressar preferências.
Tem alma de líder, idade, vivência,
história e lágrimas de aflição para puder
dizer meia dúzia de verdades, não tem
medo que a impeçam de fazê-lo, não
tem empregos, nem cargos que tenha
que defender e que de alguma forma a
poderiam condicionar. Diz e faz o que
quer, e se tiver que ser vedeta não se
acanha.
Já se consegue instalar a ver tele-
visão, “
há coisas boas... Digo-lhe já
que a telenovela Sol de Inverno tem
duas atrizes notórias, a Rita Blanco e a
Maria João, e a novela Belmonte tam-
bém, os quatro rapazes... adoro vê-los,
e depois já fui avó deles... tenho muito
orgulho e emociono-me muito
”.
Nos concursos de talentos, gosta
de dar palpites, “nunca falhei”,
tem feeling, diz assumindo que
fala sozinha, e que se emociona
com facilidade,
gosta imenso de ver espetáculos ao
vivo, e concertos. Quanto aos concur-
sos portugueses, sabe que têm que
existir, mas depois não há mercado,
“
os americamos têm, nós não temos...
Se você quiser dar uma volta ao Brasil
a cantar, demora dois anos. Nós não
temos locais de trabalho...
”.
“Gosto muito de telenovela,
gosto muito de cantar,
gosto muito de conversar...
Eu gosto mu i to de tudo!
”