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Histórias com Vida…
Refere-se a FF, como um miúdo
extraordinário e talentoso, fazia de seu
neto nos Morangos com Açúcar e dizia-
lhe muitas vezes, “
tu não te deslum-
bres! A Sara Tavares é brilhante, teve
uma atitude extraordinária, deixou
de ser a menina dos festivais para
assumir a sua negritude e as raízes,
é notável. Os Amor Electro, adoro a
miúda, tenho uma paixão pela Mariza
eu até fui ao concerto de rock que ela
fez agora, saí de lá toda maravilhada
da vida
”.
Para assinalar os seus 55 anos de
carreira, foi editado o álbum “Peda-
ços de Mim”, que contou com uma
orquestra composta por mais de 70
elementos. Para Simone foi uma estrela
que lhe puseram nas mãos, mas é um
disco que passa ao lado, “
as pessoas
acham que eu canto difícil...
”. Um
trabalho que exigiu um grande esforço
e entrega por parte de Simone, pois
estava a gravar uma telenovela, e pas-
sou o tempo a correr entre uma coisa
e outra. Considera o disco muito bom,
intemporal, e estranha que não passe
na rádio. Lamenta que não se tenha
feito um concerto, a crise não é tudo, e
pelo fato de ser uma pessoa polémica,
tudo o que há a seu favor por vezes
joga contra si.
Quando lhe perguntamos onde vai bus-
car a força, prontamente diz,
“
não sei, no dia em
que eu não for isto,
morri!
”
Não faz, nem tem projetos futuros,
o que lhe derem para fazer, faz, desde
que lhe agrade, não tem exclusividade
com ninguém. Considera-se uma pes-
soa extremamente acessível, embora
exista a ideia pré-concebida de que é
uma pessoa difícil. Diz não fazer mal
a uma mosca, mas também se for
necessário impor o seu génio para dizer
alguma coisa, diz, quer se trate de uma
instituição, um policia, um general ou
um presidente.
Simone já venceu por duas vezes a
batalha contra o cancro, diz viver sem-
pre com a espada em cima da cabeça,
“
o medo dá-me para ir em frente, o
medo não me dá para ficar em casa,
eu vou é ver se tenho algo, a correr,…
a minha médica já me diz, “Então o
que é hoje Simone, que exame é que
quer fazer?
” Cancro, tuberculose ou
sida são doenças que habitualmente
as pessoas evitam os diagnósticos,
Simone aconselha a ir logo ao médico,
para ver se ainda vão a tempo.
Na possibilidade de dar um puxão de
orelha, não hesitaria no eleito, Sócrates,
na hora de falar dele há uma áurea
de raiva que invade Simone, “
como
ele deixou este país, como ele con-
seguiu? não só ele... muita gente
mais, as pessoas atiram-se ao Pas-
sos Coelho, mas a ele deram-lhe
um presente envenenado... Agora o
Sócrates... estar agora na televisão
a ganhar dinheiro?! Estão a brincar
com quem?! Com os reformados,
a quem querem tirar a toda hora
dinheiro... os ricos estão cada vez
mais ricos,…
”. Simone tem dificul-
dade em aceitar que existam muitas
pessoas com fome. Considera que
todos já tivemos uma fase boa, mas
que ultrapassámos a nossa bitola gas-
távamos mais do que ganhávamos, há
que aprender a viver com pouco, e o
governo tem que emagrecer o próprio
governo, não podem ter 30 assisten-
tes e 30 secretárias, e uma frota com
dezenas de carros.
Por falar em carros não quero dei-
xar de partilhar este apontamento de
Simone, “
eu tenho um C2 e não deixo
o carro à chuva, não vá o gajo virar
um
Smart
, e depois eu não gosto
de carros pequenos que é a minha
grande tragédia... não gosto de
carros cinzentos, e de duas portas.
Tenho um carro cinzento de duas
portas e é pequeno!
”.
Já foi condecorada pelo governo
português com o grau de Grande-
Oficial da Ordem Dom Henrique, mas
logo diz que não queria só as conde-
corações, queria uma reforma maior
e mais digna. Uma das sensações de
maior mágoa dos artistas da geração de
Simone é serem designados por presta-
dores de serviços. “
Dá-me vontade de
ir ter com os diretores da Sociedade
Portuguesa de Autores e perguntar
o que é que eles lá estão a fazer...
porque é que não se conseguiram
debater por uma lei que foi proposta
pelo Sócrates,… eu acho que tenho
uma profissão, porque é que ma
tiraram? Porque é que a SPA deixou
que essa lei sobrevivesse?... Porque
é que essa lei não foi a parlamento?
Porque é que não foi à aprovação do
Presidente da Republica?... e tenho
a certeza que ele a vetava.
”
“
(...)
o medo dá-me para ir
em frente, o medo não me
dá para ficar em casa,
(...)
”