Página 34 - Cerimonial Magazine 2014

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Entretanto na altura estava em
cena no Politeama o musical Amá-
lia, tanto eu, como ela, sabíamos
um dueto desse musical, come-
çamos a trautear e combinamos
cantar esse dueto. Chegou à altura
ela envergonhou-se e não cantou.
Só que eu já estava com vontade e
decidi cantar, e ela disse: André vê
lá que estes fadistas já cantam há
muitos anos e tu vais para ali dar
barraca. “Apetece-me cantar, se me
deixarem cantar, eu canto.” E assim
foi, cantei não sabia tons não sabia
nada, um bocadinho nervoso por-
que nunca tinha sido acompanhado
à guitarra e à viola, cantei estava
dentro do compasso até mais ou
menos certinho, quando acabei
as pessoas bateram palmas e eu
vinha-me embora, entretanto era o
Carlos Silva que estava a tocar... e
disse, aonde vais? Cada um canta
três fados, e tu tens que cantar
três... “não sei os tons, disse eu”.
Canta que nós vamos atrás, a partir
daí começaram a surgir convites, o
Carlos depois ligou-me para fazer
outro espetáculo, entretanto come-
çaram a contactar-me quando havia
noites de fado, e começou assim...
André começa a cantar mais fre-
quentemente, e alimenta um sonho,
se eu conseguisse cantar numa
casa de fados não fazia mais nada
o resto da vida, porque era o meu
sonho e era o que eu gostava de
fazer.
” o sonho que parecia inatingível,
realiza-se quando entra numa casa de
fados, “
eu nem queria acreditar...
Mais uma oportunidade que surgiu
de forma inesperada, depois de falar
com a Filipa Cardoso e ela lhe ter
perguntado se estava a cantar nalgum
sítio, ao que André respondeu que
não. Esta entretanto fica a saber que
tinham falta de um fadista na Casa de
Linhares, liga ao André e pergunta se
este estava em Lisboa, que estavam
há espera dele. “
Caiu-me tudo nesse
momento, receber um telefonema
assim do nada... vesti o fatinho e
tal, e lá fui para Lisboa... cheguei
lá nervoso... e lá fiquei até hoje, já
lá vão dois anos e meio.
Com a entrada na Universidade,
André muda-se para Lisboa, frequen-
tava o primeiro ano de História de
Arte, pedindo ao fim do primeiro ano,
a mudança para o Curso de Con-
servação e Restauro que ainda fre-
quenta, e que vai fazendo à medida
que pode, “
é complicado, porque
praticamente canto todas as noi-
tes, chego a casa tardíssimo, e ter
que me levantar hás seis ou sete
da manha é muito complicado.
Admite mesmo que, “
sempre tive
mais aptidão para a noite do que
para o dia.
” No entanto assume que
gosta muito do dia, “
sabe-me muito
bem levantar, ver um sol bonito e
dar um passeio... começar o dia
pela manhã parece que consegui-
mos fazer muito mais coisas. Mas
há qualquer coisa na noite, que me
prende e que mantêm acordado.
Antes de ter um lugar regular nas
noites Lisboetas, André ía atuando
onde o chamavam, numa dessas noi-
tes o fadista Gonçalo Salgueiro, depois
de ouvi-lo desafia-o a gravar, “
devias
gravar, a tua voz não é muito vul-
gar
”. Passou entretanto um mês, até
que André se convenceu a aceitar este
novo desafio.
A l inha condutora do CD deter-
minou que este fosse um tributo a
Alberto Janes, pois em 2009 quando
saiu o CD, se o compositor fosse vivo
faria 100 anos, ano em que se assina-
lou 10 anos após a morte da Amália.
Alberto Janes foi um alentejano
que um dia teve a ousadia de bater
à porta da Amália Rodrigues e dizer:
eu escrevi para si...
”, na altura nin-
guém dava nada por ele, mas Amália
teve uma opinião diferente e ele viria
a tornar-se num dos mais populares
compositores portugueses das déca-
das de 50 e 60, tornou-se o autor das
mais conhecidas canções de Amália
Rodrigues. Os seus poemas viriam
a ser traduzidos nas mais variadas
línguas.