Página 35 - Cerimonial Magazine 2014

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O primeiro trabalho, de André, tem
uma forte influência de folclore, sendo
a maioria dos seus temas mais ale-
gres e compondo-se de muitos fados
que habitualmente já cantava. Para
este segundo trabalho, “Gentes do
Fado”, são somente cantados poe-
mas escritos por fadistas, “
o que é
uma coisa inédita, nunca ninguém
o tinha feito
”, diz-nos André, admi-
tindo que ficou surpreendido quando
iníciou a pesquisa e se deparou com
inúmeros temas tão conhecidos, que
foram escritos por fadistas.
Para o jovem fadista cantar fado é
um trabalho de equipa, é tão impor-
tante dizer quem escreveu, e quem
musicou como dizer quem o canta,
um hábito que considera que se tem
vindo a perder. Quase todos os fadis-
tas falam de amor, felicidade, ciúme,
traição, para André o importante é que
quando se interpreta exista alguma
identidade com quem escreveu, “
tem
que servir para eu expressar qual-
quer coisa, mais que não seja uma
frase, uma quadra, tem que haver
alguma coisa que tenha a chave, e
que me toque para eu puder dar a
minha verdade e transmitir aquilo
que sinto
”, André refere-se ainda
a uma fase que estava a atravessar
na sua vida, a quando da escolha e
gravação dos temas, e que de alguma
forma acabou por dar mais sentido as
suas escolhas, igualmente importante,
é a troca de energia com quem ouve.
Quanto ao sentimento que o invade
cada vez que atua perante uma casa
cheia em Sines, diz-nos que o peso
da responsabilidade cai mais sobre
os ombros, e também os nervos são
muitos, mas imediatamente o seu
coração fala mais alto, “
é realmente
fantástico, é uma felicidade enorme
estar a cantar para amigos, fami-
liares, e pessoas que conheço... é
especial e muito acolhedor. É um
calor diferente daquele onde canto
para pessoas que não conheço.
Assume que fica sempre nervoso
cada vez que pisa um palco, “
à sem-
pre medo de falhar, medo de não
agradar. Há responsabilidade, as
pessoas pagam para ali estar, e
se pagam tem que ter qualidade
e, portanto eu tenho sempre medo
que me aconteça alguma coisa.
Entro em pânico só de pensar que
me posso engasgar
”.
Conta-nos que ainda não lhe acon-
teceu nada de catastrófico, mas já
coleciona alguns episódios para
registo, “
engasgar-me e conseguir
entrar a tempo num espaço ins-
trumental, conseguir controlar-me
e respirar, depois sair do palco e
ficar sem voz... eu não sei como
consegui acabar o fado, mas o que
é certo é que falar não conseguia.
Já aconteceu também trocar letras,
houve alguma coisa que me desper-
tou e me deu outra palavra que não
era a que estava no poema, mas
Artes
rimava e fazia sentido e acabou
por passar
”.
Todas as atuações são importantes,
mas a forma como se sentiu acari-
nhado na primeira vez que cantou no
Salão do Povo de Sines, a primeira
vez que pisou o palco do Centro de
Artes, e esta segunda vez ficará com
um registo especial.
Quando o questionamos, em rela-
ção às reações dos seus amigos de
infância ao seu trabalho, André partilha
connosco por entre um sorriso, a sua
análise evolutiva sobre o comporta-
mento dos amigos, “
aqueles amigos
que ficaram, e que acompanharam
o meu crescimento e minha entrada
no fado, realmente na altura em
que eu comecei a cantar achavam
estranho e não ouviam fado. Hoje
em dia vêm ter comigo, dão-me os
parabéns, dão opinião, estão aten-
tos aquilo que faço e vão acompa-
nhando. Eu acho engraçado porque
embora não seja muitas vezes o
género musical que ouvem predo-
minantemente estão atentos
”.